A chave da porta

Vivi Ferreira
2 min readJun 21, 2019

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O homem na porta batia enfurecido. Ela sabia quem era, na sua mente começou a tramar um plano de fuga. Enquanto isso, ouvia barulhos de um molho de chaves. Ele vai entrar, pensou ela — olhou rapidamente para os seus pulsos roxos — depois daquela porrada na costela, ele vai querer me matar.

Correu para sacada do apartamento, olhou para os lados e retirou um casaco grosso do varal. Estava ventando, mas ela não hesitou em pular. Pendurou-se no vão do parapeito da sacada, usando a blusa frio como uma tirolesa com intuito de se jogar para baixo. Mas não o suficiente para alcançar o apartamento do vizinho debaixo.

Um pequeno cão late ao ver seus pés. Ela se sacode, olhando para baixo. Se caísse, a queda seria feia. De dentro do apartamento o homem grita: Cadê você, filha da puta? Ela respira o ar novo trazido do sul. O cano de alumínio onde ela estava pendente cede, causando um estalo. A garota olha para cima e parte do vidro do parapeito se estilhaça.

O homem aparece na sacada rindo: Não adianta tentar se matar… — com um riso sarcástico nos lábios. Maldita hora que dei a chave de casa para este imbecil — a garota cogita arrependida. Segura firme ao casaco que escorrega. Ela se joga para sacada abaixo, cai ajoelhada. O cão late novamente, quando ela se ergue, abre os olhos cortados pelo vidro, cobertos de sangue.

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Vivi Ferreira

Aspirante a escritora. Amante da ficção. Profissional da Educação. Doutora.