Arquétipos das birras infantis no filme “Onde vivem os monstros”
Pensei muito neste filme dias depois de uma cena da escola, por isso resolvi refletir sobre. Esta semana, um aluno puxou o cabelo de outra aluna, mas não puxão de briga comum, ele parecia ter um súbito interesse em remover o escalpo da menina. Sem julgamentos, afinal ambos são crianças, mas foi uma cena que me incomodou bastante. Fiquei tentando compreender o que houve. Ela é uma chatinha, ele um menino sem maturidade emocional, alguém fez bullying? reflexo do machismo na sociedade? violência doméstica normatizada? Então, nada foi feito… Ao menos, saímos de férias nos dias seguintes e pude tomar um banho para tirar a escola e os problemas da sociedade de mim. Mas nem tanto assim.
A narrativa nos conduz para uma brincadeira de um menino terrível, o Max, ele é um monstro, capaz de morder e de fazer muita bagunça. Por fim, acabei reassistindo o filme, que é muito lindo e me fez entender um pouco do que aconteceu na cena da minha escola. Apesar de não ter nada a ver, logicamente, a parte psicanalítica acalmou meu coração cheio de perguntas sem respostas, que vou tentar racionalizar aqui, por um meio de uma reflexão sobre os personagens em forma de seus arquétipos dos monstros que Max, o protagonista do filme, conhece na ilha.
Para quem não sabe, arquétipo é um conceito-ferramenta utilizado na terapia junguiana, com o objetivo de pensar qual papel performamos em momentos da nossa vida. Baseado no tarô, os papéis de Jung podem estar entre o Tolo, o Sábio, a Mãe, a Donzela, e por aí vai. Mas arquétipos são termos usados desde a metafísica do Platão para entender coisas que vêm à superfície, como fenômenos visíveis — verdadeiras pontas do Iceberg -, a ponto de serem demarcados. Neste filme, vejo que os roteiristas buscaram em cada um dos monstros um tipo de arquétipo das birras infantis, que podem ser úteis para mim, diante dos meus dilemas de escola, talvez também para pais, educadores e outros tipos de responsáveis por crianças.
Os monstros da ilha, para onde Max parte para se livrar dos seus dramas familiares, são seres enormes, animais fabulosos, com rostos gigantes e aspectos assustadores e ao mesmo tempo peludos e fofinhos.
A fantasia tem esta forma divertida de dar distância por meio dos símbolos e representações aos monstros de nosso ser. Por isso, Max pega um barco e navega dias e noites para a Ilha onde vivem os monstros, aqueles da infância, do passado ou do presente — que ainda nos amassam todos dias e nos quais nos aninhamos para poder dormir. Aliás, é bom filme para ver com as crianças, me trouxe algumas respostas, sobre os monstros dos meus aluninhos e de mim mesma.